Todas as coisas, todas as formas, todos os sons.

Todas as coisas, todas as formas, todos os sons.

quarta-feira, dezembro 15

Recuo.

Paro de ouvir. Quando todas as bocas se abrem em gritos infinitos, eu calo, tapo e recuo. Calar sempre fiz, sempre fui, mas recuar é dom que se aprende e se aprimora, principalmente quando não se vive no meio de uma sinfonia, onde luzes explodem no ar a todo instante, mas você não as vê. O povo se move, pisa, corre, e ninguém para. Tudo avança. As coisas vão para o alto, os homens seguem metralhando para baixo, e é quando os carros passam surdos e rápidos por cima de nós. Eu recuo. Toda dor sem som, todo som sem noite e a minha noite sem luz, piscando como sempre, atormenta a alma que cala no vazio, e fica só. Nem os ecos se pode mais, é o tipo de barulho surdo com o qual ninguém se importa, eles só te escutam com armas, com leis ou com faixas em aviões, pois o coração meu bem, já não ouve, nem vê, só bate, assim como o sol apenas nasce, e as crianças apenas crescem. Sem sonhos, sem ecos. No fundo da caixa, no meio do vácuo, onde se deseja perde-se para sempre, e onde eu vejo o pulsar e escuto a britadeira, afinal eu paro de ouvir, mas não tenho a surdez. Tenho que ouvir e suportar esses dias, essas vidas vazias cheias de progresso e civilidade, cheias de som e de si mesmas, buscando outros corpos para gritar com suas gargantas secas.

quarta-feira, novembro 17

Acorda Menino.

Vamos menino, acorda. Vem olhar o céu, admirar aquela pipa que vai lá em cima, lá longe onde os sonhos vem te buscar. Só falta você menino, que dorme agora, perdendo tudo o que o dia pode te trazer de bom, perdendo o cheiro das flores e a linda vista que o sol pode te fazer ter de tudo. Bom de se levar nos ombros é o peso de um sorriso, que vai te martelar cada vez mais forte, e se torna um vicio. Ô menino, deixa dessa besteira de brincar longe do mar, que nada faz perigo não menino, quando se tem a vida leve, os pés descalços e bolas de gude nos bolsos. Nada é perigoso, você tem um novelo de lã com o qual pode brincar até o dia voltar, e se cansar desse vai e vem, até que você vai deitar na areia, pra dai então descansar. Não dorme por medo da multidão, pequenino, ela é só crendice popular, as coisas soltas que as pessoas falam, sem saber direito onde tudo pode dar. Eu vou te ninar enquanto dormes, menino, pra que tu não acordes com a pressa de voltar, já que o mundo é imenso, e só uma vida não basta, pra que nós dois menino, possamos rodopiar por ai. A muito que estou acordada, sonhando sobre nuvens, vendo fogos vermelhos, plantando árvores de frutas doces, pra que se possa fazer suco nos lugares onde se tem sede. Fiz as suas malas menino, agora é só acordar, tudo já está pronto. O trem, por mais belo que pareça, não nós faz sentido, e iremos caminhando, com nossos baús, enchendo a bagagem, correndo descalços, e brincando com o vento que sempre tá pronto pra te embalar. Sonhe enquanto dorme, pequeno, com as coisas pra quando acordar, com todas as coisas, as coisas belas e maravilhosas, as coisas difíceis e as medonhas, e que tudo logo faça você acordar, pra ficar comigo aqui fora, que eu te espero menino, desde sempre. Desde sempre.

sexta-feira, outubro 15

Por Hora.

Que vá. Passe pelo céu como uma nuvem, leve e branca, propicia a me encantar. Talvez não seja tempo, já não sei, de temer a noite, que vem calada, e nunca falha, me pega de surpresa no meio de um sonho bom. O tempo cai na rotina, da qual não consigo fazer parte, como um filho bêbado em dias claros. Sou tão só isso, que já não me resta reclamar do tempo, que veio e permanece, que vai e não sei se volta, que tá, não sei se fica. O que importa é que vem, a noite, escura, e as estrelas, sozinhas num único vislumbre. Medo de tudo, de ser uma única voz, de se perder num bosque e encontrar água para lavar o que já foi, o que eu nem sei se seria se já o tivesse encontrado antes. Outras noites, outros Carnavais. Não acredito em madrugadas, e sim que todo Carnaval tem seu lastimável fim, todo o Carnaval que segue pelas ruas, que segue pelas ladeiras, que segue pelas veias, e por olhos congelados no meio de um céu. Meu céu. Diante disso, consigo afirmar que temo a noite com Olinda teme o silencio da frevioca, que não pode parar. O Carnaval acaba sem merecer, ainda que por ordem natural, não deveria perder a cor, nem a frevioca, e isso me tortura corpo e alma, alma e mente, mente e coração. Que tudo fique como está, assim acontece e segue, muda o que deve e passa pelo que mereça, não siga uma linha, reta ou torta de caminhos, só ande, caminhe pelas ruas enquanto é dia, enquanto o sol brilha lá em cima ofuscando outros astros. Caminhe pelo seu chão, que a noite, bem, disso falamos depois, quando o sol tive se pondo.

quinta-feira, setembro 16

A Ultima Foto.

Sai. Volta. Grita. Espanca. Saliva. Morre. Sai. Volta. Continua nisso por toda a noite. Os olhos vermelhos, as entranhas fervendo, os nervos suplicando por algo. Para. Senta na escada. Olha tudo em volta, nada ali lhe pertence. É dos outros, foi posto ali. De ninguém. Chora. Grita. Para. Vai na cozinha, apoia-se  na mesa, lugar de decisões, onde relembra tudo passado ali, umas tardes e algumas noites. Para. Volta as noites frias onde quis um cobertor. Nos dias quentes, onde quis despir-se. Nas luzes diferentes que acompanhou e fotografou. Não quer um filme, sempre achou a tela sentimental por demais. Filmes sempre são dramatizados da mesma forma, e seus flertes não mereciam tal titulo "Infortúnios Dramatizados". Não, aquelas coisas mereciam estar mais próximas da arte, do homem, deveriam ser Seja ao invés de Ação. Fotografou. Sem edição, como elas eram, como deveriam ser. Muitas coisas são assim, sem edição, puras e nuas como nos vem a retina, como sempre nos vem. Organizou o álbum. Tentou. Pane. Acontece. Tentar organizar tudo, e de repente Puf, o sistema falha, você não é nada alem de um técnico de fotografias tentando reorganiza-las naquele maldito álbum. Maldito. Como ele me parece maldito depois de organizado. Todas aquelas fotos, montadas ali, sem plastica. Pensou em como tudo acontece, todos aquelas fotos, tiradas sem a consciência do depois. Retratos instantâneos, sem consciência, é assim que acontece, você vive, os momentos fotografados, como se fossem reais, como se o ar novamente estivesse ali presente, e eles voltam a ser o que foram, voltam a ser intoleráveis. Assim é a vida, momentos fotografados, sem que se pense no álbum futuro, no momento futuro após a fotos, que organizadas no álbum, o tornaria, junto com tudo, maldito. Maldito ele. Maldito nós. Maldito de todas as formas: naturais, emocionais, estáveis, estéticas... Miserável. Nós. Los Misérables. Que arte...Que interpretações... Que musicas. Aquela arte, jamais encontrada novamente em qualquer outro palco, perdida nas costinas do palco, encontrada apenas nas mentes bêbadas ainda presentes no ar impuro e impróprio. Depois deles, nenhum pó-de-arroz foi usado como deveria. Nenhum Pierrot chorou como ele havia chorado. Vive. Chora. Aplaude. Sorri. Corre. Banheiro. Liga a torneira, apoia-se na pia que já não pode com todo aquele peso. Pega água, molha sua face, suja e vagabunda. Imundo. Não pode se olhar, não suporta. A água posta no rosto impede um ultimo vislumbre do homem físico e bárbaro a frente do espelho já que já não sobra mais nada depois da água. Sai. Volta. Corre. Para. Cria. Sobre. Corre como nunca antes havia conseguido. Sem velocidade, apenas com sangue, mostrando a si mesmo que é capaz de algo. Chuva. Parece claro tudo no escuro, ele, claro tudo. Atordoa-se, o que lhe parece natural , põe o álbum de lado, afinal ele é um miserável. Ele quer a si, apenas a ele mesmo, no mais nu que já esteve. Sai. Volta. Fica. Faz. Sangue. Chega. Click.

segunda-feira, agosto 23

De Ruas e Passos.

Vou a passos largos, rápidos e vazios, sob um céu desconhecido e perigoso. Ando por olhos, cílios grandes e pupilas dilatadas. Não piscam. Os pés levam o corpo, tão embriagado de si mesmo, e da vodka suja das palavras. O corpo é só um peso. Os pés que são, que doem, pois o corpo que pesa, pesa mais que os pés, vagam mais que os passos, e distante do céu, o corpo se esvai. Não sou mais que o céu, sou menos que os passos, sou os sujos goles puros da menina livre das ruas do antigo Recife. Sou passos e olhos para ela. Sou sujo, sou menos. Os passos que seguem, vãos e pobres, vão por mim, marcados com sangue pegajoso, sangue sujo, de humano sujo, rua suja. Pupilas que dilatam atrás de de cílios grandes, que seguem o céu, acima dos passos, e seguem os passos, vagos de mim. Sujo, passos vagos, ruas antigas são para isso, me embriagam de mim mesma, de bebida barata, de passos baratos. Sinto meus olhos, por trás dos cílios, eles me chamam em busca de algo fundo, mais pesado que as cores do céu, algo longe de mim. São duas pupilas. Os passos atravessam ruas e musicas, quando tudo fica mudo. O vazio sonoro, fim de tudo, fim de todos. São mudos, são dos olhos, que seguem pelos passos fundos e não são pesados, são leves, e vagarosos, são assim por terem corpos leves, pois corpos sempre pesam, meu corpo pesa, por isso os passos rápidos. Rápidos de tudo e de mim, que corro atrás dele, o que é perigoso. O céu acima de mim fica mudo, não posso culpa-lo, pois sempre soube, sempre sei, e todos sabem que o céu fica mudo, e se o seguem, é por algo maior que o som, o que é desconhecido a minhas pupilas frágeis. Frágeis olhos, presos por cordas azuis, não são coloridas. Sigo a rua, meus passos, meus pés, cansada de seguir, o corpo pesa, o pensamento pesa, a chuva e o sol pesam. Não devo me cansar, sou passos, são vagos, são livres. Sou eu. A garota das ruas velhas sumiu, levou seu vento embora, levou consigo a bebida, e eu me embebedo de mim sem ela, que correu para os sons. Aqui esta tudo mudo, sem céu, sem ar. Os passos seguem. Vazios.

sexta-feira, agosto 6

Os Tomates.

Eram três. Três tomates vermelhos e redondos. Não falo gordos, pois não sei o biótipo essencial de um tomate, mas eram vermelhos e redondos. Não os vi nascer, certo dia, olhei pela janela, e eles estavam ali, tão reais, milhões de pixeis pulados para fora de uma pequena cerca, posta ali para as flores, que deveriam ser as únicas a enfeitar o jardim. Mas nasceram tomates, três tomates. Achei aquilo curioso, como seria ao se ver três tomates vermelhos e redondos, e então fui até eles, pensei no por quê deles estarem plantados ali, no meio das flores, no jardim da frente, e nada me veio, nada. Os tomates prenderam minha atenção,meu raciocínio, não achei respostas, apenas admiração, prazer em estar ali, diante de tão belos, e vermelhos, e redondos tomates, no meio de flores tão perfumadas. Tomates não tem cheiro. Os tomates estavam ali, e todos os dias eu os via, ou pela janela, de longe, ou com as mãos, de perto, mas sempre que podia, espiava os tomates. Não havia mais nada naquela planta, além de algumas folhas e um galho, o galho dos tomates. Tomates são tão vermelhos, e as vezes, me pego olhando pra eles, mas não como olhava os três tomates redondos. Eles ficavam ali, noite e dia, todos os dias, durante muitos dias. Não foram plantados com um propósito culinário, pois ninguém os tirou dali, eles ficaram no jardim assim como as flores, que deveriam estar magoadas por eu estar notando apenas os tomates, mas na verdade, nunca notei as flores. Flores são belas e tem perfumes bons, mas seu pólen me causa alergia, e nunca pude ficar perto das flores, o que me fez também não querer vê-las de longe. Eu não via as flores, apenas os tomates. Acordei de um sonho confuso do qual não me lembro, e pensei nos tomates. Fui para fora, vê-los com as mãos. Estava escuro, era madrugada,  não tinha barulho no ar, e os tomates estavam ali, num vermelho tragado pela escuridão do jardim, e sua forma redonda tão reconhecível no meio de todo aquele espaço. Os tomates pareciam falar, embora não ouvisse nada, sei que eles estavam me falando algo, o problema é que muitas vezes não temos o dom de ouvir os tomates, e se temos, ele fica perdido por ai, no meio de laranjas e maçãs, pois tomates são sempre confundidos com verduras, e ninguém ouve as verduras. Aquela madrugada foi passando, e os tomates estavam determinados a me falar algo, pois durante todo o tempo que permaneci ali, senti a mesma sensação, olhando para os três tomates, tão sozinhos naquele jardim de flores mudas. Pensei em arranca-los e leva-los comigo para dentro, afinal, lá é quente, e eles seriam os únicos tomates do quarto, onde eu poderia vê-los com mais frequência pelas mãos, e talvez eles conseguissem me falar coisas nos sonhos. Mas quando ficou claro, e a noite devolveu o vermelho dos tomates redondos, eu os olhei e percebi que eles faziam parte do jardim, assim como as flores, assim como os insetos, assim como o vento. Deixei os tomates ali, e fui sonhar. Após essa descoberta, os tomates ficaram mais vermelhos e redondos, e eu me sentia leve, não pensava no resto, vivia para ver os tomates, que eram apreciados apenas por mim. Aqueles eram os tomates, os meus tomates, os tomates do jardim, os únicos tomates de jardim que poderiam existir na face da terra. Um dia, os tomates ficaram podres. Percebi ao toca-los que estavam frágeis e enrugados, seu vermelho desbotado, e aquilo me pareceu tão estranho, que achei que fosse normal. Segui e deixei os tomates ali. Tomates apodrecem, sempre, perdem a forma redonda e a intensidade do vermelho, mas eu não sabia disso, pra mim, os tomates eram eternos. Eles ficaram podres. Não acreditei naquilo, como poderiam três tomates vermelhos e redondos, que por tanto tempo ficaram no jardim, apodrecer sem que eu soubesse, sem me avisar? Pensei em arranca-los, mas achei melhor deixá-los ali, talvez o ambiente os lembrasse de tudo, que eles lembrassem de voltar ao normal. Que ideia tola, tomates não voltam atrás, não sabia eu. Não conseguia dormir, olhava os tomates todo o tempo, não por admiração, e sim por medo. Um dia, todos os tomates vão ficar podres, assim como os tomates do jardim, vermelhos e redondos, também ficaram, e um dia, foram arrancados. Eu esperei, não os arranquei, mesmo quando estavam  pretos. Deixei-os ali, e então eles caíram, os três tomates, se espalharam pelo jardim, e eu os observei até que sumissem. Esperei que da planta nascessem outros tomates, sem esperanças, pois sei que eles não seriam tão vermelhos e redondos quantos os três tomates, os meus tomates. Egoísmo isso. Os tomates, de tão podres, um dia caem do alto. Os três tomates caíram. Segui adiante, chorei algumas vezes a noite, no quarto fechado. Ri com ervas daninhas, e debati com trepadeiras, e com um tempo, esqueci dos tomates. Passei a viver sem eles, sem aquele vermelho, sem a forma redonda. Um dia eu sei que vou encontrar com eles, redondos, vermelhos e felizes por ai, em algum lugar. Eles me dirão Olá. Eram três.

domingo, julho 25

O X- do Man

Eu gosto dos X-man. Eu sempre gostei dos X-man. Tudo aquilo me fazia pensar no sentido da vida, que não precisa ter um sentido em si, só uma busca incansável por tal. Quando criança, eu e meu primo brincávamos de X-man, íamos para o quintal, onde escolhíamos nosso poder mutante, e ali guerreávamos durante horas contra os nossos vilões, e isso era algo fantástico. Nunca tive os quadrinhos dos x-man, minha mãe nunca achou que quadrinhos fossem algo de menina. Ela ainda não acha, mas não tendo os quadrinhos, eu tinha meu primo, e ele tinha uma estante, que por sua vez, saciava toda minha sede por super-heróis. Lia-os sempre que podia, imaginava coisas alem das paginas, vivia as paginas, invejava as paginas, e brincava com meu primo no quintal de casa. Quando somos criança não temos duvidas, a não ser aquelas questões de pivete que nunca poderão ser confundidas ou substituídas, e as minhas duvidas de pivete eram tão normais quanto as de qualquer outra criatura recente do mundo. Quando nos tornamos adolescentes e adultos, ficamos chatos e sem duvidas que mereçam ser respondidas por um estranho, e foi a duvida dos x-man que primeiro me abordou no mundo desconhecido dos hormônios. Aquelas pessoas geneticamente singulares que lutavam por algo, por alguém, ou contra as coisas, me despertaram a duvida do sentido de tudo. O sentido dos x-men me perseguiu por todos os lugares. Na escola, no cinema, nos parques, nas mesas... Em qualquer lugar aquelas pessoas me vinham a cabeça e me faziam pensar o porquê deles existirem, que era algo alem da vontade de um humano por algo no papel, afinal, eles eram coloridos. Um lugar no mundo, foi isso que me pareceu, lutar contra os humanos ou contra os próprios mutantes. Me pareceu isso, uma busca pelo seu lugar no mundo, se descobrir no meio de todos, ter paz. E isso foi ficando cada vez mais inconstante e liquido, afinal, os poderes ainda não eram explicados, e isso era a essência de tudo, era a essência das minhas brincadeiras, era a essência da prateleira do meu primo, era a essência do mundo. Procurei outros sentidos, coisas mais complexas. Quando se é adolescente, tudo é muito complexo e idiota. Não encontrei. Matei a teoria da busca, e parei de ler os quadrinhos da prateleira do meu primo, pois aquilo agora me torturava. Você abandona as coisas assim como abandona os jogos não finalizados, que te cansam e te fazem perder dias de aula e horas de sonhos, até que você percebe que já chega, e que você tem que parar. Eu parei. Joguei outros jogos, e os completei. Conheci outros livros, e os entendi. Tive espinhas, e as estourei contra as ordens de minha mãe. Fui apresentada a bebida, e me embriaguei. Tive ressacas de alcool, de letras, de certezas, de amor, e depois de tantas dores de cabeça finalmente procurei os jogos não acabados, e os completei. Já estava então na hora de voltar a prateleira de meu primo. Junto a todos os quadrinhos que a prateleira fielmente guardou por todos aqueles anos, percebi que se passa muito tempo  da vida lendo quadrinhos aos quais você nunca entendeu, e que você deixou lá por não digerir, e ficar cansado. Mas eu entendi. Aquela mente mutante modificada a tantos anos atrás finalmente encontrou a assinatura em seu adamantium. Eu havia conseguido penetrar a mente dos quadrinhos e tinha ali, na minha frente, a resposta de tudo. Os x-man eram imperfeitos e buscavam por seu eu dentro de si, era uma busca descontrolada e violenta pela sua essência, uma busca cheia de tempestades e paredes, pela coisa mais profunda em uma célula mutante. Os x-man estavam prontos, coloridos e permanentes em suas paginas, juntas em um HQ, em cima da prateleira do meu primo. Eles eram x-man. Todos eram mutantes. Tudo era uma célula. X-man.